
A madrugada de 10 de dezembro de 2024 não será lembrada como uma data comum no calendário legislativo. Será registrada como a noite em que a Câmara dos Deputados, sob o domínio da bancada da extrema-direita bolsonarista, oficializou sua capitulação ao autoritarismo e assinou, com 290 votos, um salvo-conduto para futuras tentativas de golpe contra a República.
A farsa travestida de “projeto de dosimetria” é, na realidade, um cavalo de Troia. Seu teor, técnico à primeira vista, carrega em suas entranhas o vírus do arbítrio. É o instrumento escolhido para minar, mais uma vez, as instituições que deveriam proteger a nação. Não se trata de regulamentação, mas de legalização da insurreição. Ao aprová-lo, 290 deputados não apenas ignoraram a importância da democracia; eles cuspiram em seu cadáver ainda quente e fizeram continência à barbárie que desejam institucionalizar.
Este parlamento, que deveria ser o bastião da representação popular, transformou-se no quartel-general do bolsofascismo. Curvar-se aos apetites golpistas da milicianada política que ainda sonha com tanques nas ruas e com a supressão das urnas não é um ato de negociação política. É um ato de traição. Traição ao juramento à Constituição. Traição ao povo brasileiro. Traição à memória daqueles que lutaram para que o país superasse seu passado de exceção.
Cada um desses 290 votos é um voto contra o Estado Democrático de Direito. Eles sabem. Eles sempre souberam. Seu projeto nunca foi governar para todos, mas subjugar a maioria. Não é sobre ordem, é sobre opressão. Não é sobre segurança, é sobre vigilância e controle. A “dosimetria” que praticam é a medida precisa do veneno que desejam injetar na veia da nação: uma dose letal de obscurantismo, violência política e desprezo pelas regras do jogo civilizatório.
A mensagem que essa sessão noturna e vergonhosa envia é clara: o caminho para o abismo está pavimentado e sinalizado. O golpe de 2022 não foi um episódio isolado, mas um ensaio geral. Agora, com o aval de um Congresso sequestrado, os golpistas se sentem encorajados a ensaiar o ato final.
Diante disso, não basta repúdio. É preciso ação e consequência. A sociedade brasileira não pode se dar ao luxo da complacência ou do esquecimento. Em 2026, teremos não uma eleição, mas uma operação de descontaminação cívica. É imperativo expurgar do Congresso Nacional essa legião de malfeitores democráticos. Cada assento ocupado por um bolsofascista é um ponto de infecção no organismo político nacional.
A “limpeza” de que precisamos não é metafórica. É eleitoral, é jurídica, é histórica. É preciso impedir, com o voto massivo e consciente, o retorno dessa horda que veste terno e gravata, mas carrega na alma a nostalgia da caserna e do porão. O Brasil não pode, e não vai, ser refém de quem sonha em rasgar a Constituição e apagar as luzes da Democracia.
O recado deve ser inequívoco: em 2026, o povo vai às urnas não para escolher meros representantes, mas para enterrar, de vez, um projeto de poder que tem na destruição das liberdades a sua única e nefasta razão de existir. O tempo da resistência passiva acabou. Agora, é hora de resistir ativamente, nas urnas e nas ruas, para que a noite de 10 de dezembro não se torne o prólogo permanente da nossa História.
CENSURA — Não bastasse a normalização do golpismo, do desprezo à democracia, os 291 deputados que votaram sim à dosimetria, o presidente da Casa, Hugo Motta, ainda usou sua Gestapo para expulsar jornalistas das galerias da Câmara e cortou a transmissão da TV oficial.


