Riscos nas ruas e nos transportes
Seja no transporte público ou nas ruas mal iluminadas, a violência tolhe o direito de ir e vir das mulheres em seus trajetos cotidianos. Karla Silva, 21 anos, moradora de Teresina, aprendeu cedo que circular pelas ruas da cidade não seria simples. Desde os 12 anos fazia sozinha o trajeto entre a escola e a casa — e ainda hoje, já universitária, convive com o mesmo medo.
— Você não tem paz. O tempo todo está pensando em uma escapatória, para onde vai correr.
A insegurança, segundo ela, não se restringe às ruas. Está presente até nas escolhas de transporte.
— Nem no ônibus nem no Uber eu me sinto segura. O “Uber carro” eu não pego sozinha. Fico pensando: e se o motorista travar as portas e eu não conseguir sair? Só pego “Uber moto”, e ainda assim penso: se ele desviar o caminho, eu me jogo. É melhor me machucar do que sofrer um abuso. Porque é um trauma muito grande. Você não se sente segura em nenhum lugar.
Para Milena (nome fictício), 27 anos, que vive no Distrito Federal, um trauma marcou sua vida. Em 2017, ela foi vítima de assédio sexual dentro de um ônibus, quando voltava para casa após sair do local onde fazia estágio.
— Foi a pior sensação da minha vida. Depois disso, nunca mais peguei ônibus. Só de pensar, tenho crise de pânico.
Quando fica sem transporte próprio, ela prefere utilizar um transporte por aplicativo, embora ainda fique apreensiva e sempre compartilhe a sua localização em tempo real. E, quando pega o metrô, só usa o vagão feminino:
— Não tenho coragem de ir no vagão comum; me dá crise de pânico. Só de pensar em transporte lotado com homens, fico desesperada.
Segundo Milena, o episódio de assédio sexual comprometeu não só sua mobilidade, mas também sua saúde mental e suas relações pessoais.
— Isso é assunto na terapia até hoje. Mudou minha vida em questão de ansiedade e até em relacionamento. Sou uma pessoa que não gosta muito de toque.