Prestes a enfrentar a sentença por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático, organização criminosa e outros crimes — com possível pena de 40 anos de prisão —, Jair Bolsonaro (PL-DF) adotou um tom cauteloso, tímido, em seu discurso na Avenida Paulista neste domingo (29). Diante de apenas 12,4 mil apoiadores, o menor público em seus atos desde fevereiro de 2024, o ex-presidente evitou ataques frontais ao STF e surpreendeu ao declarar: “Nem preciso ser presidente” para mudar o Brasil. Em vez de exigir anistia, como em eventos anteriores, limitou-se a um apelo genérico por “justiça já” e pacificação, pedindo aos Três Poderes que “conversem” para resolver a crise.
A postura cautelosa estendeu-se aos aliados. Enquanto o pastor Silas Malafaia chamou o ministro Alexandre de Moraes de “ditador da toga” e exigiu a anulação da delação de Mauro Cid, figuras-chave como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) evitaram criticar o Judiciário. Tarcísio restringiu-se a atacar o governo Lula e elogiar a gestão passada de Bolsonaro, num discurso eleitoral calculado. Até mesmo Flávio Bolsonaro, embora defendesse a inocência do pai, moderou seu tom em comparação com declarações anteriores sobre “uso da força” contra o STF. A ausência de faixas ofensivas a ministros reforçou a estratégia de contenção.
A mudança tática reflete o desgaste político e jurídico. Bolsonaro, inelegível até 2030, admitiu pela primeira vez que pode atuar nos bastidores: pediu aos apoiadores que elejam 50% do Congresso em 2026 para que ele, como “presidente de honra” do PL, “mude o destino do Brasil” mesmo sem ocupar o Executivo. A proposta, porém, soa como resignação: o público foi 72% menor que o do ato de abril (44,9 mil), e apenas quatro governadores compareceram — contra sete no evento anterior. Malafaia tentou minimizar o fracasso de mobilização ao afirmar que “menos importante que o número é o que vou dizer”, mas o recado estava dado: o cerco jurídico, prestes a entrar em fase decisiva em setembro, enfraquece sua capacidade de pressão nas ruas.