Por Agenor Duque
Há exatos quarenta anos, um jovem empresário nova-iorquino posava para a revista Manhattan Inc. com uma pomba branca nas mãos. O nome dele era Donald Trump. Naquele tempo, o mundo o via apenas como um magnata em ascensão. Mas a imagem, simbólica e enigmática, parecia apontar para algo maior: um homem que um dia falaria sobre paz no Oriente Médio.
Quatro décadas depois, essa fotografia ganha novo significado. Trump volta a Jerusalém e, amanhã, deve discursar no Knesset, o Parlamento de Israel, apresentando um acordo de vinte pontos que pode mudar o curso da história. Coincidência ou não, o pronunciamento acontece justamente no aniversário de um ano dos ataques do Hamas durante Simchat Torá, o dia em que o terror interrompeu a festa e mergulhou Israel em uma guerra dolorosa.
O plano, elaborado com o genro e conselheiro Jared Kushner, judeu ortodoxo e arquiteto dos Acordos de Abraão, combina diplomacia e pragmatismo. Ele prevê a libertação de reféns israelenses, a troca por prisioneiros palestinos, o recuo militar de Israel e, por fim, a criação de um Estado Palestino desmilitarizado sob supervisão internacional.
De acordo com o texto, o Hamas deverá devolver vinte reféns vivos e vinte e oito corpos em troca da libertação de cerca de dois mil prisioneiros, entre eles duzentos e cinquenta terroristas condenados à prisão perpétua. Israel, por sua vez, deve recuar suas tropas para uma linha delimitada dentro de Gaza, enquanto forças internacionais assumem a segurança da região. A ideia é que o Hamas entregue suas armas, abandone o poder e dê lugar a uma administração civil temporária, coordenada por um conselho liderado por Trump, com Tony Blair atuando como governador civil de Gaza.
Nos bastidores, Kushner é visto como a mente por trás da engrenagem. Discreto, estratégico e profundamente ligado à causa judaica, ele foi quem costurou o diálogo entre Egito, Qatar, Turquia e Israel. Diplomatas próximos afirmam que, sem ele, o acordo dificilmente teria avançado. O envolvimento direto de Kushner reforça a percepção de que essa missão vai além da política: carrega um tom espiritual, quase messiânico, na tentativa de restaurar uma paz que muitos já consideravam impossível.
Em Israel, o debate é intenso. Benjamin Netanyahu enfrenta resistência dentro da própria coalizão, especialmente de alas que não aceitam concessões a grupos palestinos. Trump, porém, deve usar a tribuna do Knesset para fazer o que sempre fez: falar com autoridade. Espera-se que ele defenda a necessidade de unidade nacional e convoque os israelenses a abraçar uma nova oportunidade de paz.
Há quem veja nisso um gesto político. Outros enxergam um sinal. E é nesse ponto que a leitura profética se impõe. O nome Donald, em tradução linguística, equivale a Daniel, “Deus é meu juiz”. Já o sobrenome Trump, em inglês arcaico, significa “trombeta”, símbolo bíblico do anúncio de novos tempos. Assim, o retorno de Daniel Trombeta a Jerusalém, justamente no dia em que o povo recorda a tragédia de Simchat Torá, ressoa como um chamado espiritual: a trombeta volta a soar sobre Israel.
A mesma pomba que repousou em suas mãos em 1983 agora parece sobrevoar novamente o cenário do Oriente Médio. Quarenta anos depois, Trump regressa não como empresário, mas como figura central de um processo que promete redefinir fronteiras, ideologias e esperanças. Se é apenas política ou se há algo maior por trás, o tempo dirá. Por enquanto, o mundo observa. E Jerusalém, em silêncio, aguarda o som da trombeta.