
Por Agenor Duque
A prisão de Daniel Vorcaro (foto), dono do Banco Master, no dia 17 de novembro, expôs um dos maiores escândalos financeiros recentes do país. Ele foi detido no aeroporto, prestes a embarcar para Dubai, durante a Operação Compliance Zero, que investiga um esquema de fraudes envolvendo títulos de crédito sem lastro, operações irregulares e CDBs com rendimentos muito acima do mercado. A Polícia Federal aponta que o prejuízo pode chegar a 12 bilhões de reais, atingindo investidores, o Banco de Brasília e todo o sistema financeiro.
Segundo as apurações, o Master negociava papéis supostamente lastreados em carteiras de crédito que, na prática, eram infladas ou nem existiam. Parte desses títulos foi adquirida pelo Banco de Brasília, o que ampliou a dimensão do problema e levou a contratação de auditoria externa. A investigação indica que o esquema funcionava como uma engrenagem paralela que prometia retornos irreais, atraía investidores e sustentava operações que acabaram colapsando.
Com o avanço da investigação, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Master, bloqueou bens dos controladores e retirou a instituição do sistema financeiro. A medida buscou evitar um efeito dominó no mercado e proteger investidores que acreditaram nos CDBs oferecidos pelo banco. O prejuízo pressionou o Fundo Garantidor de Créditos e atingiu instituições que compraram papéis sem lastro real.
A prisão de Vorcaro foi determinada pela Justiça Federal sob a justificativa de risco à ordem pública e possibilidade de interferência nas investigações. Ele passou pela sede da Polícia Federal em São Paulo e foi levado ao Centro de Detenção Provisória 2 de Guarulhos. A defesa alegou que a prisão era desnecessária e afirmou que, com o banco liquidado e os bens bloqueados, não haveria meios de repetir qualquer conduta suspeita.
Dez dias depois, o rumo do caso mudou. O Tribunal Regional Federal da Primeira Região decidiu soltar Vorcaro e outros quatro executivos do Master: Augusto Ferreira Lima, Luiz Antônio Bull, Alberto Feliz de Oliveira e Ângelo Antônio Ribeiro da Silva. A liberação ocorreu mediante medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica, entrega do passaporte e restrições de contato entre os investigados. Ao mesmo tempo, a defesa recorreu ao Supremo Tribunal Federal questionando a competência da primeira instância.
A decisão reacendeu um sentimento conhecido da população. A percepção de que grandes escândalos financeiros raramente resultam em punições proporcionais. Enquanto o cidadão comum enfrenta toda a rigidez da lei, casos bilionários avançam por caminhos lentos, cheios de recursos, laudos e debates técnicos. Para muitos, a volta para casa com uma tornozeleira eletrônica depois de um rombo dessa magnitude reforça a ideia de que existe um abismo entre Justiça e realidade.
O caso segue em andamento. Se houver responsabilização, poderá representar um marco no combate a fraudes financeiras. Se não, será apenas mais um capítulo na história que o brasileiro conhece bem.
No Brasil, cadeia não existe pra rico.


