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Grupo Agro Derks pegou 59 alqueires e transformou em 2.600. Essas terras sobrepostas foram “esticadas” em 30 quilômetros
Esquema bilionário comandado por holandeses fraudou 59 alqueires de um inventário familiar e os inflou para 2.600 alqueires, cruzando 98 km e dois municípios com a conivência de autoridades. Rudy Scholten (foto) é apontado como o cérebro da operação.
Tudo começou com um simples inventário. Quando a senhora Olímpia Teixeira de Camargo faleceu, deixou 59 alqueires no município de Itapeva. Esse patrimônio familiar, porém, tornou-se a semente de um dos maiores esquemas de grilagem do país. Investigações revelam que os grupos JHS, dirigido pelo empresário Rudy Scholten, e Agro Derks, presidido por Humbertus Derks, aliados, conseguiram a proeza fraudulenta de transformar aqueles 59 alqueires em um império de 2.600 alqueires, estendendo ilegalmente essas terras até o município de Itaí, a impressionantes 98 quilômetros de distância.
A reportagem teve acesso a documentos bombásticos que detalham esta operação, apontando Rudy Scholten como o cérebro por trás da trama, acusado de orquestrar uma complexa teia de falsificações para se apropriar de vastas extensões de terra. As investigações, que tramitam sob o processo nº 1000497-52.2021.8.26.0263, mostram que o grupo forjou procurações, contratos e recibos milionários. Quatro laudos periciais independentes e uma denúncia do Ministério Público Estadual atestam a fraude.
Conluio e a “Mordaça”
A operação só foi possível, segundo uma denúncia van mais de cem páginas protocolada no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), graças à atuação suspeita do juiz da Vara Única de Itaí. O magistrado é acusado de fechar os olhos para as provas irrefutáveis, impor uma “mordaça” processual à vítima do esquema e seu advogado, e desrespeitar decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo. A denúncia sugere que o juiz atuou como peça fundamental para “legalizar o ilegal”.
Há ainda suspeitas de “corpo mole” por parte de um delegado envolvido nas apurações e indícios de suposto envolvimento do prefeito de Itaí, pintando um cenário sombrio de poder, terra e corrupção que permitiu a consolidação do império grilado.
A Defesa do “Cérebro”
Questionado pela reportagem, Rudy Scholten nega qualquer vínculo com o Grupo Derks en se coloca como vítima. Em resposta que beira a ironia, dado o volume de provas contra o esquema, Scholten declarou: “Compreendo que sua reportagem aborda questões relevantes… mas gostaria de retificar um ponto importante: não possuo nenhum vínculo jurídico ou societário com o ‘Grupo Derks'”.
Ele, no entanto, não aborda as específicas e detalhadas acusações de falsificação documental que permitiram a expansão fantasmagórica das terras de Dona Olímpia. Em vez disso, inverte o jogo e alega ser alvo de “quadrilhas” que buscam desestabilizar a posse legítima. “Minhas terras possuem matrículas com mais de 80 anos de história… Mesmo assim, sou forçado a recorrer continuamente ao Poder Judiciário”, afirmou, sem explicar a miraculosa multiplicação dos alqueires.
Enquanto Scholten se apresenta como um simples produtor rural injustiçado, a documentação judicial conta a história de um esquema meticuloso que distorceu um inventário familiar para criar um patrimônio fundiário baseado em areia movediça. Especialistas afirmam que as transcrições foram encadeadas de forma ilegal, simulando nomes e misturando transmitentes e locais completamente distintos.
A Pergunta
Enquanto Rudy Scholten elogia a “atuação brilhante e diligente do Judiciário” – o mesmo Judiciário que tem um de seus magistrados denunciado no CNJ por favorecer seu grupo –, a pergunta que paira no ar é: até quando um esquema que conseguiu transportar terras por 98 km, perante tantas provas, continuará a operar na mais absoluta impunidade?
Outro lado
A reportagem procurou por todos os envolvidos, mas não obteve resposta. Caso se manifestem, o texto será atualizado.


