
A improvável relação entre Lula e Trump, cultivada em encontros rápidos e telefonemas frequentes, transformou-se em um ativo político valioso para o presidente brasileiro. Longe de uma afinidade ideológica – são polos opostos no espectro político –, a relação parece pautar-se por um pragmatismo calculista. Para Lula, a proximidade com uma figura polarizadora como Trump, ainda que em clima de “lua-de-mel”, projeta uma imagem de estadista capaz de dialogar com todos, reforçando sua narrativa de reinserção internacional do Brasil. Esse capital diplomático, visível nos convites e no fluxo de comunicação, é tangível e será explorado.
No cenário eleitoral do próximo ano, esse alinhamento tático pode render dividendos significativos a Lula perante um eleitorado diverso. Para setores centristas e de negócios, a boa relação com um provável presidente dos EUA sinaliza estabilidade e possíveis benefícios econômicos, abrandando críticas sobre um suposto alinhamento ideológico rígido. Já para sua base histórica, a aproximação pode ser vendida como uma astúcia estratégica, um meio de defender interesses nacionais junto a uma potência inevitável, mitigando assim potenciais desgastes. O foco desloca-se da ideologia para os resultados percebidos.
Contudo, o trunfo é de alta volatilidade. A associação com a extrema-direita trumpista carrega riscos, podendo alienar parcelas mais progressistas da base de Lula e alimentar a narrativa da oposição sobre incoerência. Tudo dependerá de como o Planalto gerencia essa narrativa, equilibrando a exibição de acesso privilegiado com a manutenção de seu discurso de centro-esquerda. Se bem administrado, contudo, o fenômeno transforma uma aparente contradição em uma demonstração de poder e flexibilidade, um recurso valioso no complexo xadrez da política interna.


