Por Agenor Duque
Em uma virada no Congresso, a oposição emplacou Carlos Viana (Podemos-MG) na presidência e Alfredo Gaspar (União-AL) na relatoria da CPMI do INSS. Com 180 dias de trabalho, a comissão mira fraudes bilionárias e abre caminho para convocações politicamente explosivas — entre elas a do irmão do presidente Lula, Frei Chico.
A eleição foi apertada e simbólica: 17 votos a 14 contra o candidato governista, Omar Aziz (PSD-AM). O recado político veio na largada: a Polícia Federal estima prejuízos superiores a R$ 6 bilhões, e o novo comando promete responsabilizações. A vitória consolidou um bloco oposicionista disposto a conduzir as investigações com pulso firme.
Na prática, isso já se traduz em pauta. O presidente Carlos Viana afirmou que o relatório será técnico e que todos os ministros recentes da Previdência serão ouvidos — uma trilha que inevitavelmente alcança Carlos Lupi (PDT), titular da pasta quando o escândalo estourou. É a senha de que a CPMI não ficará no terreno das generalidades.
No front mais sensível ao Planalto, a oposição articulou ouvir Frei Chico, irmão de Lula e vice-presidente do Sindnapi, entidade sob suspeita no caso. Documentos e reportagens apontam salto na arrecadação do sindicato nos últimos anos, alimentando a tese de que o setor merece escrutínio público. O avanço desse requerimento tem potencial de transformar a comissão no principal foco de desgaste para o governo.
O movimento ganhou corpo com o senador Izalci Lucas (PL-DF), que protocolou formalmente a convocação de Frei Chico e outros nomes, além de defender quebras de sigilo para rastrear fluxos financeiros. O pedido já está lançado no sistema legislativo e deverá ir a voto quando o plano de trabalho avançar — um teste direto de força entre governo e oposição dentro do colegiado.
Enquanto isso, o relator Alfredo Gaspar dá o tom do relatório que virá: “o Brasil não aguenta mais CPI que termina em pizza” e “não vamos poupar ninguém”. Com histórico de combate ao crime organizado, Gaspar promete condução “em compasso com a verdade”, linguagem que sinaliza rompimento com acordos de bastidor e aumenta a pressão sobre todos os citados.
O roteiro, portanto, está traçado: comando oposicionista, agenda assertiva e alvos de alto impacto. Se confirmada a convocação de Frei Chico e de ex-ministros, a CPMI do INSS tende a dominar o noticiário das próximas semanas. Para o governo, a missão é recompor maioria e conter danos; para a oposição, imprimir o carimbo de responsabilização e transformar a comissão no palco de um ajuste de contas político — com consequências que podem ir além do INSS.
Em jogo: a credibilidade do Congresso em investigar fraudes que atingem aposentados e pensionistas, e a capacidade do Planalto de resistir a uma CPI com timão fora de sua órbita. Seja qual for o desfecho, a mensagem inicial é inequívoca: a CPMI começou grande — e promete terminar barulhenta.