OPINIÃO – O procurador-geral da República, Paulo Gonet, não só manteve a denúncia contra Jair Bolsonaro e seus comparsas como ainda deu um upgrade na pressão: em manifestação enviada ao STF nesta quinta, ele deixou claro que o ex-presidente e seus 33 aliados precisam responder na Justiça por tentativa de golpe. A mensagem foi direta: “Se o crime veio com manual de instruções, a gente vai processar até o último parágrafo”.
Na prática, Gonet rejeitou todos os argumentos da defesa de Bolsonaro — que, entre choramingos e piadas prontas, tentou desqualificar a denúncia com frases como “Que golpe é esse que o Mossad não sabia?”. O problema é que, segundo a PGR, o tal golpe não precisava de espiões israelenses. Bastou um grupo de ministros, generais e até um ex-diretor da Abin (sim, Ramagem, estamos olhando para você) para articular um plano digno de roteiro de House of Cards tropical: prender ministros do STF, invadir o TSE e usar as Forças Armadas como “poder moderador” — ou seja, moderador de caos.
O relator do caso, Alexandre de Moraes, agora tem a batata quente na mão. Se ele e a Primeira Turma do STF aceitarem a denúncia, Bolsonaro vira réu oficial por crimes como organização criminosa armada, tentativa de golpe e dano ao patrimônio (sim, até o tapete do Planalto entrou na jogada). E não será um réu qualquer: segundo a PGR, ele era o “líder” da trama, o chefão, o capo de um esquema que tentou transformar o Palácio da Alvorada em quartel-general de insanidade.
Na lista de acusados, além do ex-presidente, estão quatro ex-ministros (Braga Netto, Anderson Torres, Paulo Sérgio e Heleno), o ex-comandante da Marinha Almir Garnier e até o tenente-coronel Mauro Cid — que, depois de virar delator, deve estar se perguntando se valeu a pena trocar a farda por um acordo de delação. A PGR ainda dividiu a denúncia em cinco “núcleos” para não embaralhar os culpados, como quem separa cebolas em um sacolão: um grupo para os idealizadores, outro para os executores, e assim vai.
Enquanto isso, Bolsonaro segue no modo stand by da indignação. Nesta semana, no Senado, ele soltou a clássica “não vi, não sei, não fui eu” — e ainda brincou com a suposta incompetência do Mossad em não detectar seu “golpe de estimação”. Só faltou perguntar: “Cadê o print?”.
Mas Gonet não riu da piada. Na manifestação, ele lembrou que o próprio Bolsonaro revisou a tal “minuta do golpe”, pedindo até para tirar os nomes de Gilmar Mendes e Pacheco da lista de prisões. Detalhe: o ex-presidente não quis poupar Alexandre de Moraes, que agora é justamente o relator do caso. Ironia? O STF chama de reviravolta.
Agora, o Brasil aguarda para ver se a Justiça engole a defesa de Bolsonaro ou se, finalmente, o ex-presidente vira réu de um processo que mistura autoritarismo, WhatsApp de militar e uma pitada de delírio coletivo. Enquanto isso, o resto do país segue na torcida: se o golpe não vingou em 2022, que ao menos a responsabilidade judicial vença em 2024.
E assim caminha a República: um dia um presidente, no outro, um possível réu. E o STF no meio, segurando o livro penal com uma mão e um cafezinho com a outra.
Talvez, logo ali, os bolsonaristas possam incluir entre suas frases: “temos um ex-presidiário presidente e um ex-presidente presidiário”. O tempo dirá.