Prefeito Fábio Candido, aliado de Bolsonaro, assistido por Lula
O prefeito de São José do Rio Preto (SP), Fábio Candido (PL), completa os primeiros 100 dias de mandato em meio a uma crise sanitária sem precedentes. Desde janeiro, mais de 30 rio-pretenses morreram vítimas da dengue, e quase 50 mil casos foram registrados, segundo dados preliminares. Candido atribui a escalada da doença à gestão anterior, do ex-prefeito Edinho Araújo (MDB), e promete divulgar atualizações dos números nesta quinta-feira (10), após a Secretaria da Saúde concluir o levantamento. A situação, porém, contrasta com o discurso de prioridade na saúde, bandeira que o levou à prefeitura .
Os primeiros meses de governo foram marcados por conflitos institucionais. Candido enfrentou resistência de médicos das UPAs e da presidente do Sindicato dos Médicos, Merabe Muniz, após tentativas de reorganizar as emergências sem diálogo prévio. Na educação, a demora na definição do plano anual gerou insatisfação, embora ele tenha anunciado parcerias para reduzir o déficit de 2.096 vagas em creches, promessa citada durante a transição . A gestão também tentou enfraquecer o Conselho Municipal da Cultura, enviando projeto para transformá-lo em órgão consultivo, mas recuou após pressão pública.
A ética administrativa foi outro ponto controverso. Candido propôs uma emenda à Lei Orgânica para permitir nepotismo, justificando a necessidade de “agilidade nas nomeações”. A iniciativa foi barrada pela Câmara, obrigando-o a retirar o texto, mesmo após indicações questionáveis de parentes para cargos. Paralelamente, o prefeito autoproclamou seu governo como “nota 10 com louvor” em entrevista ao Diário da Região, principal jornal da cidade, onde reiterou compromissos não cumpridos, como a auditoria nas contas públicas e a abertura da “caixa preta” do governo anterior
Na área econômica, Candido anunciou a monetização de dívidas da Rio Preto Prev e do município, alegando contato com o ex-ministro Paulo Guedes. A assessoria de Guedes, porém, negou qualquer envolvimento, criando desconforto político. Enquanto isso, o governo federal, liderado pelo PT, destinou R$ 500 mil e enviou a Força Nacional para combater a dengue, além de 10 ambulâncias ao SAMU local — apoio que contrasta com o alinhamento partidário do prefeito, historicamente ligado a Jair Bolsonaro (PL) .
Apesar das promessas de transparência, Candido mantém pendências. Além de não investigar as gestões passadas, como prometido em campanha, enfrenta críticas pela lentidão em ações sociais, mesmo com o plano inicial para reduzir a população em situação de rua, que soma 756 pessoas. Seu estilo gerencial, classificado como “choque de gestão”, prioriza medidas emergenciais, mas esbarra em desafios estruturais, como a necessidade de concursos públicos na saúde e educação, áreas que ele mesmo reconheceu como críticas .
OPINIÃO – Os 100 dias revelam um governo dividido entre o pragmatismo e a ideologia. Enquanto tenta consolidar uma imagem de eficiência, Candido acumula derrotas legislativas e dependência de apoio federal. A população aguarda se as promessas restantes, como o combate à dengue e a ampliação de creches, sairão do discurso para a prática, especialmente diante de um cenário onde a saúde pública segue sendo o maior desafio — e a maior cobrança aos seus próximos passos.