A gestão do prefeito Fábio Candido (PL) e o Sindicato dos Médicos de São José do Rio Preto entraram em rota de colisão desde o início de seu mandato. A polêmica começou após a Prefeitura acusar profissionais de reduzirem propositalmente o ritmo de atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), agravando filas durante uma epidemia de dengue. O estopim foi um áudio vazado em que uma médica orientava colegas a limitarem o número de pacientes atendidos por hora, estratégia que, segundo a gestão, visava pressionar por contratações.
Em resposta, a Prefeitura demitiu duas médicas terceirizadas e anunciou a investigação de 14 profissionais suspeitos de registrar ponto sem cumprir jornada, os chamados “médicos fantasmas”. A presidente do sindicato, Merabe Muniz (foto), também foi afastada do cargo de coordenadora de emergência após criticar publicamente o prefeito, chamando-o de “ditadorzinho”. A administração alega que as medidas buscam “transparência”, mas médicos denunciam perseguição e falta de diálogo.
O sindicato rebateu as acusações, classificando-as como arbitrárias, e anunciou ações judiciais por danos morais coletivos e abuso de autoridade. Merabe Muniz destacou que os profissionais atendiam acima da média recomendada pelo Conselho Federal de Medicina, mesmo com unidades superlotadas e falta de insumos. “A responsabilidade pela saúde não pode recair apenas sobre quem enfrenta condições precárias”, afirmou, ressaltando que a terceirização de 400 médicos via Funfarme fragiliza o controle das jornadas.
Enquanto a prefeitura estuda implantar reconhecimento facial para monitorar pontos, a crise estrutural persiste: UPAs operam com equipamentos insuficientes e a epidemia de dengue, que já registra mais de 1.100 casos, sobrecarrega o sistema. Profissionais relatam desgaste físico e emocional, enquanto a população reclama de filas intermináveis. A Polícia Civil investiga suposta prevaricação por parte dos médicos, mas parte da sociedade questiona se a gestão usa os profissionais como bodes expiatórios para desviar a atenção de falhas administrativas.
O impasse reflete tensões nacionais entre gestores públicos e servidores. Enquanto processos judiciais avançam, o debate central segue ignorado: como garantir saúde de qualidade sem investir em estrutura e diálogo? Enquanto prefeitura e sindicato trocam acusações, pacientes aguardam respostas que vão além de brigas políticas, em um sistema à beira do colapso.
Veja nota do Sindicato
“NOTA PÚBLICA DE ESCLARECIMENTO
EM DEFESA DA VERDADE, DA JUSTIÇA E DA DIGNIDADE DOS MÉDICOS
DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP
O Sindicato dos Médicos de São José do Rio Preto vem a público manifestar-se sobre a “SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA – PORTARIA N.975,
DE 10 DE JANEIRO DE 2025”, a divulgação realizada por mídias locais, bem como sobre declarações e decisões oriundas da Prefeitura Municipal que vêm sendo amplamente divulgadas sem que tenha sido garantido aos profissionais citados o direito constitucional ao contraditório e à ampla
defesa.
É com profunda preocupação que o Sindicato assiste à tentativa de linchamento moral e profissional de médicos que há anos dedicam sua vida à população rio-pretense, muitos dos quais atuaram bravamente durante os
períodos mais críticos da pandemia e da recente epidemia de dengue, em
condições adversas e com estrutura precária.
Cabe esclarecer que nenhum dos médicos até o presente momento foi formalmente intimado a prestar esclarecimentos, nem sequer para ciência do teor da suposta sindicância que, de forma seletiva, está sendo vazada à imprensa como fato consumado. Tal conduta, além de violar
gravemente o devido processo legal, revela-se como uma tentativa de criar
uma narrativa política para encobrir falhas de gestão e estrutura na saúde pública municipal.
Ainda mais grave é o fato de que as acusações parecem desconsiderar
completamente o organograma oficial das unidades de saúde, elaborado pela própria Secretaria Municipal de Saúde, sob o conhecimento e chancela do Secretário Dr. Adilson Vedroni. Nele estão previstas funções específicas — como médicos horizontais e diretores técnicos — cujas atividades não são medidas por número de atendimentos diretos, mas sim por suporte,
coordenação, gestão e ensino clínico. Investigar esses profissionais com
base em números de consultas, sem contextualização técnica, é distorcer
a realidade do trabalho médico.
Não aceitaremos que a honra, a reputação e o compromisso de médicos sejam destruídos por medidas arbitrárias, autoritárias e
midiáticas. A responsabilidade de zelar pela saúde da população deve ser compartilhada entre gestores e profissionais, mas jamais poderá recair apenas sobre quem, na ponta, lida com a dor humana sem as mínimas
condições estruturais adequadas.
O Sindicato tomará todas as medidas jurídicas cabíveis para resguardar
os direitos dos médicos indevidamente expostos, inclusive com eventual ajuizamento de ações por danos morais coletivos e individuais, além de representações nos órgãos de controle por abuso de autoridade, improbidade administrativa e violação à honra funcional dos servidores públicos.
Conclamamos a sociedade, os profissionais da saúde e a imprensa responsável a refletirem com cautela sobre ainstrumentalização de denúncias sem o devido processo legal, pois hoje são os médicos, amanhã poderá ser qualquer outro servidor público comprometido com o bem
coletivo.”