A postura do presidente Lula em relação à ex-presidente argentina Cristina Kirchner difere profundamente da abordagem do presidente estadunidense Donald Trump sobre Jair Bolsonaro, revelando contrastes marcantes em respeito à soberania e ao papel do Judiciário. Enquanto Lula, ao segurar um cartaz com a mensagem “Cristina Livre” durante a visita que fez,, expressou solidariedade pessoal à colega argentina, ele não atacou o sistema judicial da Argentina nem questionou a legitimidade de suas decisões. Sua manifestação foi um gesto de apoio político, centrado no desejo de ver Kirchner livre das acusações de corrupção, sem interferir nos processos judiciais e seus efeitos. Essa atitude reflete uma cautela diplomática, respeitando a autonomia das instituições argentinas. Por outro lado, Trump, ao chamar o processo do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro de “caça às bruxas”, adota uma retórica agressiva, desrespeitando a independência judicial brasileira.
Lula, ao apoiar Kirchner, limitou-se a uma expressão de afinidade ideológica, sem sugerir que o Judiciário argentino estivesse agindo de forma ilegítima ou por motivação politica. As acusações contra Kirchner, que envolvem corrupção e lavagem de dinheiro, são complexas, mas Lula evitou comentários que deslegitimassem as cortes argentinas, mantendo o foco em sua solidariedade pessoal. Essa postura contrasta com a de Trump, que, em postagens na Truth Social em 7 de julho de 2025, atacou diretamente o STF, acusando-o de perseguir Bolsonaro e sua família. Trump opina sobre um processo grave, que acusa Bolsonaro e outros 37 réus de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático e organização criminosa, sem demonstrar conhecimento das evidências ou do contexto jurídico brasileiro. Sua intervenção é uma tentativa de influenciar a opinião pública, ignorando o devido processo legal.
A diferença entre os dois líderes também se manifesta no respeito às instituições. O STF brasileiro, que conduz o caso de Bolsonaro, opera com independência, amparado por investigações robustas, como as da Procuradoria-Geral da República e depoimentos de figuras como Mauro Cid. Trump, ao sugerir que o julgamento de Bolsonaro deveria ocorrer “nas urnas” e não na Justiça, desvaloriza o papel do Judiciário em proteger a democracia, especialmente após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Lula, por sua vez, nunca questionou a legitimidade das cortes argentinas, mesmo ao apoiar Kirchner, mantendo suas manifestações no campo político e não jurídico. Essa distinção destaca a responsabilidade de Lula em evitar tensões diplomáticas, enquanto Trump parece buscar projeção internacional ao custo da soberania brasileira.
Além disso, a abordagem de Trump carrega um tom beligerante que não encontra paralelo nas ações de Lula. As declarações de Trump ecoam narrativas bolsonaristas que tentam desacreditar o STF, alimentando tensões entre seus apoiadores e as instituições democráticas. Lula, mesmo em um contexto de polarização na América Latina, optou por uma postura de apoio simbólico a Kirchner, sem atacar juízes ou processos argentinos. A independência do Judiciário brasileiro, reforçada por decisões como a inelegibilidade de Bolsonaro até 2030, é um pilar que Trump desrespeita ao interferir em um caso que desconhece. A reação do governo brasileiro, incluindo o Itamaraty, foi clara ao rejeitar a ingerência de Trump, enquanto Lula, ao tratar do caso Kirchner, nunca provocou tal resposta das autoridades argentinas.
Por fim, a comparação entre Lula e Trump revela não apenas diferenças de estilo, mas também de princípios. Lula, ao apoiar Kirchner, manteve o respeito pela soberania argentina, limitando-se a gestos políticos que não desafiam a autoridade judicial. Trump, ao contrário, faz ataques frontais ao STF, demonstrando desconhecimento e desrespeito pelo processo brasileiro, que envolve acusações graves contra Bolsonaro. Enquanto Lula busca reforçar laços regionais sem desestabilizar instituições, Trump utiliza o caso de Bolsonaro para fortalecer sua imagem junto à direita global, mesmo que isso signifique interferir em assuntos internos de outro país. A justiça brasileira seguirá seu curso, e a postura de Lula serve como exemplo de como expressar solidariedade sem comprometer a soberania alheia.