
Por Agenor Duque
Os Estados Unidos, por décadas símbolo de prosperidade e estabilidade global, enfrentam agora uma crise que paira acima das nuvens e revela a vulnerabilidade de uma potência acostumada a socorrer outras nações, mas que hoje luta para manter seus próprios serviços essenciais.
Mais de 60 mil trabalhadores do setor aéreo, entre agentes da Administração de Segurança no Transporte (TSA) e controladores da Administração Federal de Aviação (FAA), estão sem receber salários devido à prolongada paralisação do governo federal, que já ultrapassa três semanas e não apresenta previsão de solução.
Mesmo sem pagamento, esses profissionais continuam de plantão nos aeroportos e torres de controle, sustentando com esforço o funcionamento do sistema aéreo norte-americano. Muitos dependem de economias pessoais, cartões de crédito e até de empregos temporários para sobreviver.
“Tenho colegas que saem do turno e vão dirigir Uber. Precisamos colocar comida em casa”, relatou Neal Gosman, representante sindical da TSA em Minnesota. Em Dallas-Fort Worth, um agente identificado apenas como M. contou ter feito um empréstimo de três mil dólares para pagar aluguel e prestações do carro. “Não há mais o que fazer. O empréstimo foi a única saída”, afirmou.
A crise atingiu proporções impensáveis. Companhias aéreas e instituições civis estão distribuindo cestas básicas e refeições para servidores que seguem trabalhando mesmo sem receber. Em aeroportos como Newark, Denver, Los Angeles e Dallas, caixas com alimentos e café são entregues diariamente por voluntários e empresas parceiras. “Ver quem protege nossa segurança fazer fila por comida é algo que nunca pensei presenciar nos Estados Unidos”, comentou um voluntário emocionado.
Segundo dados da FAA, quase metade dos 30 maiores aeroportos do país enfrenta escassez de controladores de tráfego aéreo, resultando em atrasos, cancelamentos e sobrecarga operacional. Os chamados Misery Maps, mapas que monitoram atrasos e congestionamentos, exibem agora manchas vermelhas em rotas entre Los Angeles, Chicago, Nova York e Atlanta, o eixo vital do transporte aéreo americano.
Enquanto isso, em Washington, o impasse político continua sem solução. A ala republicana, aliada ao ex-presidente Donald Trump, tenta aprovar o orçamento, mas precisa de apoio democrata. Os democratas, por sua vez, condicionam os votos à manutenção dos programas de saúde pública, como o Affordable Care Act. O jogo político avança como uma tempestade, e quem paga o preço são os trabalhadores essenciais que mantêm o país em movimento.
O que se vê agora é um retrato inédito da vulnerabilidade americana. O império que sempre foi referência de força e eficiência enfrenta sua própria turbulência, não apenas nos céus, mas na base que sustenta o sistema: seus servidores. “Somos peças de um tabuleiro político”, disse um agente em Ohio. “E quem perde a partida é sempre quem trabalha.”
Agenor Duque
			
                                
							